Os Caboclos de Pena são genuinamente brasileiros, os verdadeiros donos dessa terra chamada Brasil. Relendo um livro sobre cantigas de Umbanda e candomblé, me dei conta de como é rica a liturgia aos caboclos em geral, a miscigenação cultural/litúrgica/culto entre o Indio, Negro e o Branco. Seus espíritos e rituais estão espalhados em várias nações do candomblé, fortemente na Umbanda e até de cultos próprios pois não dependem de ninguém.
Os Caboclos se dividem em diversas nações: Aimorés, Tupis, Tamoios, Guaranís, etc. Cada uma caracterizada por uma combinação de cores em geral. Interessante são as legiões de Caboclos oriundos de várias linhas e cada linha é constituída de sete legiões, cada uma com seu chefe. A linhas de Xangô que inclui as legiões de: Iansã, caboclo Cachoeira, Pedra Branca, Caboclo do Sol, da Lua, Treme-Terra e caboclo do Vento. Na limha de Oxóssi estão as legiões de: Araribóia, Guaranís (chefiada por Araúna) Cabocla Jurema, cabocla das Sete encruzilhadas, Pele vermelhas (chefiada por Águia Branca, Tamaios e Urubatão. A linha de Ogun inclui as legiões de: Ogun Beira Mar (praias), Ogun Delei (linha de Malei da Quimbanda) Ogun Iára (rios), Ogun Matinata (campos), Ogun Megê ( linha das almas na Umbanda), Ogun Naruê (linha das almas Quimbanda), e Ogun Rompe-Mato (matas). Na linha de Yemanjá estão as legiões de: cabocla Iansã (chuvas/raios) , cabocla Iára (rios/mares), cabocla Indaiá (lagos), Cabocla Janaína (mar), cabocla Nanã (fontes), cabocla Oxun (cachoeiras), e Sereia (mar). Existem ainda uma infinidades de caboclos ligados a essas linhas, falangeiros da Jurema, capanguinhas, etc
Os Caboclos conhecem todos os segredos das forças da natureza, por isso sabem como descarregar um ambiente cheio de energias negativas, nocivas e como curar uma pessoa atingida por males físicos ou espirituais, usando as energias benéficas que nos cercam e o seu próprio poder esperitual.
Os Caboclos começaram a se manifestar nos candomblés de caboclo e nas mesas de Jurema do Catimbó, mais tarde tornaram-se um dos mais importantes grupos de de entidades da Umbanda. Em uma sessão de Umbanda, os Caboclos atendem aos fiéis fazendo passes e defumações, além de ensinar os remédios e dar os conselhos adequados a cada caso.
Por ser genuinamente brasileiro, os pontos são cantandos e compostos em portugues, daí a participação cultural do Branco. Há um ponto que ratifica sua condição de sobrerano:
“Brasileiro, brasileiro (bis)
sou brasileiro Imperador, mais eu sou filho do Brasil!
se meu pai é brasileiro, minha mãe é brasileira
brasileiro o que é que eu sou?
sou brasileiro Imperador!”
IOs caboclos possuem características muito diferentes dos Orixás, e não passam por um aprendizado definido. Eles se comportam de maneira mais violenta e primitiva, e o estado de transe é muito agitado. Como sua conduta não está rigorosamente codificada, é posspível que ajam de modo bastante imprevisível…As suas personalidades refletem fielmente a imagem tradicional do Índio do Brasil…Ao se observar certas cantigas percebem-se a influência cultural do Negro e em especial do povo da costa de Angola, a misceginação Índio/Negro em vários pontos:
“O Luandê, o Lunda, Luanda é terra de caboclo o Luanda”
“Pedrinha miudinha da arunda ê, lagedo tão grande da aruanda ê”
Muitas casas de candomblé cultuam caboclos, porém, não dão crédito algum, fazem de portas fechadas, desconsiderando uma cultura brasileira enraizada no nosso cotidiano. É difícil entender esse comportamento das nações africanas e seus zeladores, afinal a terra é do Índio brasileiro, com seus ritos, mistérios e soberania, tem que pedir licença (agô) para pisar na terra, um alguidá com frutas, um cuité com vinho, um charuto acesso, tem até Orixá que gosta. Okê Caboclo! É só um carinho com o sultão das Matas, no pé do juremeira.